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Advogado. Especialista em Direito Médico e Odontológico. Especialista em Direito da Medicina (Coimbra). Mestre em Odontologia Legal. Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico e Hospitalar - Escola Paulista de Direito (EPD). Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico, Odontológico e da Saúde (FMRP-USP). Preceptor nos programas de Residência Jurídica em Direito Médico e Odontológico (Responsabilidade civil, Processo ético médico/odontológico e Perícia Cível) - ABRADIMED (Academia Brasileira de Direito Médico). Membro do Comitê de Bioética do HCor. Docente convidado da Especialização em Direito da Medicina do Centro de Direito Biomédico - Universidade de Coimbra. Ex-Presidente das Comissões de Direito Médico e de Direito Odontológico da OAB-Santana/SP. Docente convidado em cursos de Especialização em Odontologia Legal. Docente convidado no curso de Perícias e Assessorias Técnicas em Odontologia (FUNDECTO). Docente convidado do curso de Bioética e Biodireito do HCor. Docente convidado de cursos de Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Especialista em Seguro de Responsabilidade Civil Profissional. Diretor da ABRADIMED. Autor da obra: COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Busca por estabilidade traz médicos da Argentina para o Brasil

Na primeira fase do programa lançado pelo Ministério da Saúde brasileiro, chamado Mais Médicos, e que recebe os que têm diploma de fora do país, a maior parte dos inscritos veio da Argentina.

A lista incluía argentinos e, principalmente, os próprios brasileiros formados na Argentina.

Para os médicos recém-formados na Argentina, o Brasil é um país em ascensão que permite um salto qualitativo na carreira, salário atraente conjugado com menor carga semanal de trabalho, como contaram ao Clarín.

Pesou na escolha desse grupo, a situação econômica brasileira, considerada estável em contraste com as dificuldades políticas e econômicas crescentes na Argentina.

Além de questões salariais, da carreira ou da política argentina, para outros a motivação para trocar de país passa por estar perto da família no Brasil e por projetos de consolidação de uma relação amorosa. Para esse grupo, a mudança para o interior do Brasil e próxima da família representa mais qualidade de vida.

São brasileiros formados na Argentina e argentinos médicos casados com brasileiras. Profissionais com especialidades e com boa remuneração na Argentina. Para este grupo, não há nenhum tipo de dificuldade com o idioma.

ara continuar no Brasil, depois do programa Mais Médicos, e evitar atritos com a classe médica brasileira, a maioria dos inscritos pretende prestar o Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos, o Revalida.

Estabilidade

Os médicos Ximena Ulcuango, 29, equatoriana e nacionalizada argentina, e o argentino Sergio Geronazzo, 31, formaram-se no final do ano passado. O casal ainda não fez a residência e acredita que a experiência como médicos de atendimento básico no Brasil seja um bom ponto de partida para carreira. São de Libertador San Martín, uma localidade em Entre Ríos, província que faz fronteira com o Brasil. Serão médicos no município paranaense de Guaira.

"Estou um pouco cansado da Argentina. Cansado dos processos políticos e da situação econômica do país", desabafa Geronazzo.

"Já tínhamos pensado no Brasil porque é um país mais estável economicamente e queríamos fazer uma especialidade lá. Através deste programa, vimos uma boa oportunidade para sair da Argentina e para falar bem o português", conta a médica.

A balança inclinou mesmo com as condições do programa. "No Brasil, serão 40 horas semanais enquanto aqui trabalhamos 60 horas", admite Ximena. "O salário num hospital daqui é de seis mil pesos (cerca de 2.500 reais). Um caminhoneiro ganha oito mil pesos", compara Geronazzo. "O médico é considerado de outra forma no Brasil", conclui.

Pelo programa, cada médico receberá R$ 10 mil por mês, além de auxílio para moradia e alimentação. As prefeituras deverão oferecer transporte diário da moradia até a unidade de atendimento médico. O contrato de três anos pode ser renovado por outros três.

"Se conseguirmos estabilizar-nos e se gostarmos, poderemos ficar mais tempo no Brasil", antecipa a médica, em referência tanto à renovação do contrato quanto da possibilidade de continuar no país, prestando o Revalida. "Gostaria de revalidar o título para fazer alguma especialidade ou poder ficar no Brasil, caso gostemos de lá", planeja Geronazzo.

Idioma e amor

Quanto ao novo idioma, o casal é confiante: " Não vejo como uma barreira, mas sim como um desafio. Acho que dentro de um mês 'vou falar muito bem', brinca pronunciado as últimas palavras já em português.

"Na nossa universidade, tivemos contato com estudantes brasileiros de medicina e fizemos um curso de português. Acho que não seria um problema", aposta Ulcuango.

O idioma não é problema nenhum para Ivana Berkoff, 31. Casada com um brasileiro. Essa médica de San Isidro, área nobre da grande Buenos Aires, já pensava em revalidar o diploma no Brasil no ano que vem. O Mais Médicos antecipou o projeto de estar com a filha e com o marido em Americana, interior de São Paulo, a 200 km de Ribeirão Preto, onde está a família do marido.

"Também queríamos uma vida mais tranquila no interior e gostamos do nível da medicina e da educação no interior de São Paulo. Mas vamos basicamente porque meu marido é brasileiro. Senão, eu não iria", garante Berkoff. "É que a Argentina oferece a possibilidade de desenvolver-se na carreira. O sistema de formação é muito bom e acessível. Não sei se no Brasil é tão acessível", explica.

Recém-formada na especialidade de Clínica Médica, Ivana Berkoff ganhava um salário em torno de sete mil pesos (cerca de R$ 3 mil) que duplicava com os plantões (por plantão, paga-se cerca de 2 mil pesos ou R$ 850).

Assim como Berkoff, o médico argentino Leandro Cesano, 31, também se encaixa no grupo dos que têm na família a motivação para mudar de país.

"A palavra que define a minha motivação é amor", sintetiza enquanto olha para a namorada brasileira, Isabela da Silveira. "Surgiu a possibilidade de exercer a minha profissão lá e de ficar com ela perto da família dela", explica. "O objetivo é evoluir na relação com ela. Queremos ter um filho lá", indica em perfeito português.

"Tenho um bom salário que me permite viver tranquilamente na Argentina", explica esse médico que troca Rosario, na província de Santa Fé, interior da Argentina, por Parobé na grande Porto Alegre, a 25 km de Gravataí, de onde é a família dela.

Brasileira e formada em Cuba

O caso da médica brasileira Sandra Glaucia da Conceição, 33, é curioso. Formou-se em Cuba, mas veio para a Argentina há quase sete anos, a partir do relacionamento com o jornalista argentino Diego Vidal. Estava terminando a residência em pediatria, quando surgiu o programa Mais Médicos. Os dois vão juntos agora para São Cristóvão, no Sergipe, a 23 km de Aracaju, de onde é a família de Sandra.

"Voltar para o Brasil é uma questão familiar porque quase não temos família aqui. Temos um garoto de quatro anos e queremos compartilhar meu filho com a minha família", explica a médica. "Temos trabalho na Argentina. Não voltamos por emprego porque estamos bem economicamente aqui", afirma. Como médica residente, ela ganhava sete mil pesos que chegavam a 13 mil pesos (cerca de R$ 5.500).

Copa do Mundo

Como o programa permite que o cônjuge trabalhe, Vidal planeja ser correspondente no Brasil. "Já estou vendendo o pacote de matérias para a Copa do Mundo, eleição presidencial, Jogos Olímpicos", entusiasma-se.

Quem tem muitas conquistas profissionais a perder na Argentina se for ao Brasil é o casal de médicos Sebastián Basilio Elias (34) e Samira Bonomo (34). Ele, argentino ela, brasileira, conheceram-se ainda no curso de medicina em Buenos Aires há 15 anos.

"A formação em Buenos Aires é superior a das faculdades do interior do Brasil e igual a das principais capitais brasileiras", avalia Bonomo. "O funil aqui não é o vestibular, mas sim o próprio curso de medicina", observa.

O plano de regressar ao Brasil foi adiado pela residência dos dois (dermatologia ela; otorrino ele), pelo trabalho posterior e pela filha de três anos. O programa Mais Médicos veio para resgatar o projeto de vida inicial, embora o casal esteja agora totalmente consolidado na Argentina.

"Compramos um apartamento semanas atrás. Ganhamos muito bem. Eu tenho um consultório particular. Faço cirurgias em quatro clínicas. Sou médico contratado num hospital e no Exército", descreve Sebastián em perfeito português. "Eu trabalho em duas clínicas e num hospital", completa Bonomo.

E conclui: "Temos muito a perder em termos de dinheiro e de carreira. Ganhamos juntos aqui mais do que ganharemos juntos lá". "Em termos financeiros, esse programa é mais para médicos com necessidades econômicas ou recém-formados", analisa Elias.

"Salários"

Então o que os motiva? "A razão é mesmo o coração", responde Elias. "Ficar perto da família e ter mais tempo para a família", explica. "Os irmãos dela são odontologista e cirurgião maxilofacial no Brasil e eles têm muito mais tempo para a família do que um médico argentino", ilustra.

O casal vai a Cariacica, no Espírito Santo, a 230 Km de São Mateus, onde está a família da médica está.

"Se tiver de fazer o Revalida, não terei nenhum inconveniente. Seria bom que o Revalida fosse aplicado também aos médicos brasileiros. Será que passariam?", desafia Elias. "A verdade é que o Revalida foi feito para não ser aprovado. Se os próprios médicos fizessem o Revalida, não passariam", afirma Bonomo.

"O salário do Mais Médicos não é o que estão querendo fazer acreditar no Brasil. A Cruz Vermelha, por exemplo, paga mais para missões desse tipo", compara. "Não haverá cartaz de boas-vindas para nós", lamenta.

Números

Dos 142 inscritos, apenas a metade fez a inscrição em território argentino. E dos 77 inscritos na Argentina, a maior parte é de brasileiros. Foram 42 brasileiros e apenas 28 argentinos. A maioria, 48 deles, fez a inscrição no Consulado brasileiros em Buenos Aires.

São brasileiros que vieram à Argentina atraídos pela ausência da necessidade de prestar o vestibular ou pelo valor da mensalidade muito inferior à praticada pelas universidades brasileiras.

Fonte: UOL