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Advogado. Especialista em Direito Médico e Odontológico. Especialista em Direito da Medicina (Coimbra). Mestre em Odontologia Legal. Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico e Hospitalar - Escola Paulista de Direito (EPD). Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico, Odontológico e da Saúde (FMRP-USP). Preceptor nos programas de Residência Jurídica em Direito Médico e Odontológico (Responsabilidade civil, Processo ético médico/odontológico e Perícia Cível) - ABRADIMED (Academia Brasileira de Direito Médico). Membro do Comitê de Bioética do HCor. Docente convidado da Especialização em Direito da Medicina do Centro de Direito Biomédico - Universidade de Coimbra. Ex-Presidente das Comissões de Direito Médico e de Direito Odontológico da OAB-Santana/SP. Docente convidado em cursos de Especialização em Odontologia Legal. Docente convidado no curso de Perícias e Assessorias Técnicas em Odontologia (FUNDECTO). Docente convidado do curso de Bioética e Biodireito do HCor. Docente convidado de cursos de Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Especialista em Seguro de Responsabilidade Civil Profissional. Diretor da ABRADIMED. Autor da obra: COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Brindes e subvenções podem influenciar decisões médicas

Por HÉLIO SCHWARTSMAN / ARTICULISTA DA FOLHA

Médicos negam até a morte que o fato de receberem um ou outro brinde da indústria farmacêutica possa comprometer-lhes a isenção ou exercer influência sobre seu julgamento profissional.
Em alguma parte de seus cérebros isso é verdade. Ninguém em juízo perfeito receitaria algo sabidamente pior para o paciente em troca de mimos -e ainda colocando em risco a própria reputação.
O problema é que o circuito racional não é o único a atuar na cabeça das pessoas -nem mesmo daqueles que procuram praticar uma atividade baseada em evidências científicas.
Isso, aliás, nem deveria ser uma surpresa. Publicitários sabem há décadas que o cérebro se deixa persuadir pelas mais diversas vias neuronais, das quais nós quase nunca tomamos consciência.
O que a literatura mostra é que a propaganda e os presentes oferecidos pelos laboratórios funcionam.
Numa metanálise clássica publicada em 2000 no ``Jama``, Ashley Wazana concluiu que a distribuição de itens como brindes, amostras grátis, refeições e subvenções para viagens e simpósios têm indiscutível efeito sobre as atitudes dos médicos em relação ao laboratório e sobre suas prescrições.
Pagar uma viagem para um profissional, por exemplo, aumenta entre 4,5 e 10 vezes a probabilidade de ele receitar as drogas produzidas pela empresa patrocinadora. Efeitos semelhantes foram observados -e medidos- para cada uma das interações mais comuns entre médicos e a indústria.
Esse marketing ativo é tão eficiente que se estima que as empresas farmacêuticas a ele dediquem entre 25% e 30% de seus orçamentos -uma fatia calculada em US$ 60 bilhões anuais, de acordo com um trabalho de 2008. A título de comparação, o quinhão destinado à pesquisa é de US$ 31,5 bilhões.
Daí não decorre que os laboratórios sejam a encarnação do mal e que todo relacionamento entre indústria e médicos seja espúrio. Em muitas situações, os interesses de empresas, profissionais e sociedade convergem. É o caso do desenvolvimento de novas drogas e monitoramento das existentes.
Mas, como as ênfases e lealdades são diferentes, é importante criar mecanismos que tornem as relações mais transparentes e reduzam o peso dos fatores extracientíficos. É o que o CFM começa a fazer, com mais de uma década de atraso.

Fonte: Folha de São Paulo